Relatório da OCDE “The Ocean Economy to 2050” – O Futuro da Economia Azul: Crescimento Sustentável e Resiliência
- simaorodrigues6
- 7 de abr.
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A Economia do Oceano é um motor essencial para o crescimento global, cria empregos, impulsiona o desenvolvimento e garante a segurança alimentar para milhões de pessoas.
Se a economia do Oceano fosse um país, seria a quinta maior economia do Mundo.No entanto, as alterações climáticas, a degradação dos ecossistemas marinhos, a baixa produtividade das indústrias marítimas e a lenta digitalização intensificam as pressões no crescimento da Economia Azul Sustentável.O relatório da OCDE “The Ocean Economy to 2050” apresenta-nos dados essenciais para apoio às políticas públicas no âmbito da promoção de um Oceano sustentável e resiliente.A transição para energias limpas, o combate a práticas ilícitas e o uso de tecnologias digitais são ferramentas fundamentais para proteger os ecossistemas marinhos, garantir a prosperidade das futuras gerações e a saúde do Oceano.
A economia do Oceano é importante para a economia Mundial.
O oceano cobre 71% da superfície da Terra, compreende 90% da biosfera, proporciona segurança alimentar a mais de três mil milhões de pessoas, permite o transporte de mais de 80% dos bens essenciais e abriga cabos marítimos que transportam 98% do tráfego internacional da Internet. As novas estatísticas e análises da OCDE revelam o papel vital que o oceano desempenha nas economias e nos meios de subsistência de centenas de milhões de pessoas.
Se fosse considerada um país, a economia do Oceano, seria a quinta maior economia do Mundo em 2019.
Entre 1995 e 2020, contribuiu com 3 % a 4 % do valor acrescentado bruto mundial (VAB) e empregou até 133 milhões de trabalhadores a tempo inteiro.
A economia oceânica mundial duplicou em termos reais em 25 anos, passando de 1,3 biliões de dólares de VAB em 1995 para 2,6 biliões de dólares em 2020, crescendo a uma taxa média anual de 2,8%. Os níveis de emprego mantiveram-se relativamente constantes, atingindo um pico de 151 milhões de trabalhadores a tempo inteiro em 2006, caindo para 101 milhões em 2020 devido à COVID-19, com recuperação desde esta data.
Mais de 75% do crescimento económico mundial do Oceano entre 1995 e 2020 teve origem na Ásia e no Pacífico. Só a Ásia Oriental foi responsável por 56% da expansão da economia oceânica mundial, enquanto a Europa e a América do Norte registaram um crescimento mais lento. A República Popular da China, os Estados Unidos da América, o Japão, a Noruega e o Reino Unido atingiram as maiores economias oceânicas em média, durante este período. No entanto, países como a Noruega registaram a maior percentagem de economia oceânica em relação ao total da economia, demonstrando as disparidades regionais na dependência da economia do Oceano.
O turismo náutico e costeiro e a extração de petróleo e gás offshore geraram cerca de dois terços do valor acrescentado bruto total. No entanto, a distribuição da mão de obra variou muito. O turismo náutico e costeiro foi o maior empregador, enquanto a extração de petróleo e gás no mar gerou uma produção económica elevada, mas em relação ao emprego a taxa foi relativamente baixa. A produção da construção naval e da energia eólica offshore também se expandiu rapidamente, embora a empregabilidade seja também ela, baixa em comparação com outros setores da economia azul.
Grandes disrupções irão remodelar a economia do Oceano nas próximas décadas.
Se as tendências históricas se mantiverem, a economia global do Oceano poderá ser quase quatro vezes maior em 2050 do que em 1995. No entanto, vários constrangimentos poderão abrandar ou mesmo inverter o crescimento até 2050 se não forem tomadas medidas políticas.
Forças externas globais terão impacto na saúde do Oceano e na Economia Azul.
Fatores como o crescimento demográfico, as alterações climáticas e pressões ambientais, o comércio e a globalização, a transição energética, os avanços tecnológicos e a dinâmica geopolítica - juntamente com as suas interações - moldarão a saúde do Oceano e a futura trajetória de crescimento da economia do Oceano. As projeções qualitativas e quantitativas destacam o clima, as transições energéticas e os avanços na ciência, na tecnologia e na inovação como principais motores.
O declínio da produtividade e as lacunas na digitalização também influenciarão o potencial futuro da economia azul. Embora algumas atividades económicas relacionadas com o Oceano tenham ultrapassado o crescimento médio da indústria entre 1995 e 2020, a produtividade diminuiu em mais de metade das atividades económicas analisadas.
O contributo dos serviços de capitais para o crescimento da economia azul concentrou-se em ativos não ligados às tecnologias de informação e comunicação. Isso revela que as atividades económicas do oceano não estão a aproveitar ao máximo os motores de produtividade, essenciais para um futuro cada vez mais automatizado.
Os diferentes caminhos para uma transição energética global afetarão o crescimento económico do oceano nas suas múltiplas formas.
Com a transição acelerada para a energia de baixo carbono, a economia azul continuará a crescer até 2050, atingindo cerca de 2,5 vezes o tamanho de 1995. O turismo náutico e costeiro será o principal motor desse crescimento, enquanto a participação do petróleo e do gás offshore no VAB total da economia do Oceano tenderá a diminuir.
A estagnação da transição poderá levar a um declínio da economia azul global em relação a 2020, devido à falta de investimento na produtividade e ao agravamento dos impactos nefastos das alterações climáticas em várias áreas do setor marítimo.
Quatro prioridades estratégicas que podem ajudar a alcançar uma economia azul mais produtiva e ambientalmente mais sustentável
Para construir uma futura economia azul mais produtiva, dinâmica e ambientalmente mais sustentável, os decisores políticos devem fortalecer a governação do Oceano, promover a inovação tecnológica, melhorar a recolha de dados e integrar os países em desenvolvimento nas cadeias de valor globais.
O reforço da governação do Oceano e dos quadros regulamentares podem ser concretizados através da utilização de instrumentos de gestão do Oceano baseados na ciência e que equilibrem as prioridades económicas e ambientais, como o ordenamento do espaço marítimo e as zonas marinhas protegidas.
Com a expansão das reivindicações territoriais nacionais para cerca de 39% do Oceano, as posições nacionais sobre questões relacionadas com o Oceano podem ser reforçadas por uma cooperação internacional através de acordos como o Acordo sobre Subsídios à Pesca da OMC e o Acordo do Alto Mar (BBNJ - Biodiversity Beyond National Jurisdiction). Ambos são marcos importantes para a proteção dos oceanos e a sustentabilidade da economia azul que ajudarão a colmatar lacunas regulamentares e a alinhar os incentivos económicos com os objetivos de sustentabilidade.
Promover a inovação tecnológica e a transformação digital. Os governos deverão incentivar o investimento público e privado em soluções baseadas nas TIC, na automatização e na robótica para aumentar a produtividade e a competitividade e reduzir as externalidades ambientais. Tal implicaria o reforço de programas de formação dos trabalhadores para melhorar as competências das principais indústrias, preparando-os para uma economia mais digitalizada e apoiando os clusters de inovação da economia Azul para promover a colaboração e os avanços interprofissionais e intersectoriais.
Melhorar a recolha de dados da Observação do Oceano e a Investigação Científica. A expansão do conhecimento sobre o Oceano é fundamental para a ciência, a conservação da biodiversidade e a economia Azul. Com apenas 25% dos fundos marinhos cartografados, as redes de exploração sustentável, monitorização e observação do oceano devem expandir-se utilizando novas tecnologias digitais. Estes esforços devem apoiar a tomada de decisão e a gestão dos recursos com base científica. Para apoiar estes desenvolvimentos, serão essenciais melhores políticas públicas e privadas de acessibilidade aos dados sobre o Oceano.
Alargar a participação dos países em desenvolvimento na economia do Oceano, salvaguardando simultaneamente os danos nefastos ambientais. Com a evolução demográfica e a disponibilidade de recursos naturais, os países em desenvolvimento podem beneficiar de uma maior participação na economia azul. Para tal, são necessárias estratégias oceânicas integradas que tenham como principal objetivo a conservação da biodiversidade e a utilização sustentável do meio marinho. Devem ser encorajadas políticas como a gestão sustentável das pescas e incentivos ao turismo náutico e costeiro ecológico. Além disso, a promoção de novas parcerias internacionais facilitará a partilha de conhecimentos nos dois sentidos, reforçando simultaneamente o apoio financeiro e as transferências de tecnologia.
*Fonte: Sumário executivo do relatório “The Ocean Economy to 2050”, publicado pela OCDE, 31/03/2025
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